Maioria dos blocos e camarotes nem iniciou vendas; empresários aguardam posicionamento da prefeitura

Assim que acaba o Carnaval, já  é costume dos blocos e camarotes de Salvador começarem as vendas para o ano seguinte. Este ano, o cenário é bem diferente por conta da pandemia do novo coronavírus: agências venderam menos de 10% dos abadás para o Carnaval de 2021, uma festa que ainda não tem data para acontecer. A grande maioria dos blocos, na verdade, nem abriu para comercialização. 

Em meio à indefinição, empresas flexibilizaram a política de vendas para o folião já que tinha adquirido o abadá. Ele pode ficar com um  crédito para 2022 ou para uma nova data que surja no próximo ano (se houver adiamento), ou ter a devolução integral do dinheiro se a festa for cancelada. O potiguar Diogo Bezerra, 27, preferiu deixar como crédito para 2022. Ele já tinha comprado três abadás  antes da pandemia se agravar. São sete anos que Diogo passa o Carnaval em Salvador: “Essa situação pegou todo mundo de surpresa, já tinha comprado três dias. Em 2021 não vai dar para todo mundo ter a vacina, mas estamos programando 2022”.

O soteropolitano Rodrigo Estrela também não acredita em Carnaval sem vacina. Desde 2012, marca presença todos os anos, e, na edição do ano passado, conheceu a noiva, Ana Beatriz. “Acho muito perigoso um Carnaval com a estrutura do de Salvador ser realizado sem uma vacina”, avalia Rodrigo, que é professor universitário. Ele não acha boa ideia a festa ser adiada para o segundo semestre. “Carnaval tem que ser no verão, nas férias”

Cancelamentos  e vendas em baixa

O bloco Me Abraça já anunciou que não comparecerá ao desfile se for em fevereiro. “Existe a pandemia e a gente tem que ser responsável”, explica o diretor Ricardo Lelys. Um dos mais tradicionais da capital baiana, o Afoxé Filhos de Gandhy manteve as vendas, mas não lucrou nem 10% do que costuma. Segundo o presidente da entidade, Gilsoney de Oliveira, a agremiação vai esperar um posicionamento da prefeitura: “A gente não suspendeu porque existe a possibilidade de acontecer no segundo semestre de 2021”.

 No caso dos camarotes, somente o Premier e o Salvador lançaram vendas para 2021. Um dos sócios do camarote Nana, o empresário Fred Boat, lamenta o prejuízo do segmento e entende a vacina como necessária para a realização do Carnaval: “Não me comprometi com despesas, mas também não tenho receita. Em outubro, todos os camarotes já têm tudo contratado e boa parte delas paga, com 30 a 40% dos abadás já vendidos”.

 O diretor da Central do Carnaval, Joaquim Nery, diz que, a partir do momento que surgiu a pandemia, suspendeu a divulgação das vendas no site, mas o comércio continuou porque havia demanda: “As pessoas não entendiam que não teria Carnaval em fevereiro”. Nery  acredita que comemorações espontâneas surjam em alguns bairros em fevereiro: “Tenho a impressão que vai existir um carnaval informal, que não vai ter como controlar”. 

Sócio-diretor do Folia Bahia, Rodrigo Magalhães diz que as vendas no site inciaram em abril, mas nem 10 unidades chegaram a ser vendidas: “O mercado de venda de abadás para 2021 está praticamente parado. Vai começar a movimentar depois da definição da data, pois existe a possibilidade de um adiamento”.

 No site Quero Abadá, a situação é parecida. “Os blocos, camarotes, o empresariado e os foliões estão aguardando uma definição do poder público e isso tem impactado diretamente nas vendas. Temos pouquíssimos abadás  vendidos em relação ao ano passado”, relata o diretor Vitor Hugo. Segundo ele, houve queda de 70% na movimentação.

Sem data definida

Segundo o presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington, a definição sobre o Carnaval deve ser feita em novembro: “O prefeito ainda não formalizou o cancelamento, mas tudo aponta que dificilmente será em fevereiro, porque não há indicativo que uma vacinação em massa seja feita até lá. A tendência é o adiamento para uma nova data no segundo semestre, mas tudo depende das condições sanitárias”.

 O presidente do Conselho Municipal do Carnaval e Outras Festas Populares (Comcar), Pedro Costa, disse que se o Carnaval for realizado sem vacina, corre risco de a Bahia sofrer uma segunda onda da infecção da covid-19, como está havendo agora na Europa. “Não dá para fazer uma festa e botar um milhão de pessoas na rua sem esperar a vacina”,disse. 

A Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) orienta os consumidores de bloco ou camarote a terem atenção ao contrato da compra e aos avisos das entidades carnavalescas. Segundo o órgão, valem os efeitos da Lei nº 14.046, de 24 de agosto de 2020, que dispôs sobre o adiamento e o cancelamento de serviços, de reservas e de eventos dos setores de turismo e de cultura em razão do estado de calamidade pública reconhecido. Além disso, a orientação é para a conciliação das partes, para  que não haja maior oneração ao consumidor.

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